segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Auto dos Danados

Nesta semana centrar-me-ei numa análise linear das crises do Estado em relação ao avanço do capitalismo tardio, seguindo a perspetiva de Jurgen Habermas.  Ora, estes problemas são apelidados de “crises”, dado que estes distúrbios não permitem que determinado sistema social seja capaz de continuar o modelo desse sistema.
                O capitalismo tardio marca o fim do capitalismo liberal, na medida em que o mecanismo de mercado é substituído pela intervenção e a ideologia liberal pela iniciativa do Estado em corrigir as tendências destrutivas do livre-cambismo puro. O Estado guarda para si a responsabilidade da segurança social e do crescimento económico. O que acontece é que, atualmente, assistimos a uma dessas crises, a crise económica. O descontrolo dos processos acumulativos de capital dá-se pelas suas contradições e manifesta-se na falência e no desemprego. Ora, Passos Coelho devia ter mais atenção ao que Habermas diz, tendo em conta que não segue, somente, a dimensão de crise económica, mas, também, de crise administrativa, ou melhor, de racionalidade (embora a sua política esteja muito dependente do FMI, tem responsabilidades e espaço de manobra para negociações e outras alternativas), pois esta surge quando o Estado não efetua as políticas técnicas a que se propôs. Por sua vez, este processo é um bocado como aquelas bonecas russas que sempre que se abre uma aparece outra no seu interior e (as matrioshkas), como consequência, a crise da racionalidade dá lugar à crise de legitimação. O governo de coligação PSD-CDS sofreu e tem sofrido, violentamente, esta crise de legitimação. No entanto, tire-se o chapéu à política de comunicação desta governação, na medida em que, a partir dos artigos de opinião, dos vários textos de blogues e da invisibilidade construída na pessoa do primeiro-ministro, conseguiu, constantemente, adiar e adiar um debate profundo sobre esta legitimação.
                Por fim, toda esta correlação de crises leva a uma bloqueio no sistema de valores culturais e sociais. É feita a crítica à funcionalidade da sobrevivência do capitalismo. Dá-se a crise de motivação. Surgem os movimentos de resistências que buscam alternativa, desde anarquistas a outros radicais de extrema-esquerda ou extrema-direita. Há uma ameaça, assim, à nossa democracia. As democracias nacionais foram abaladas pela crise e pele fenómeno de globalização que baralha todos os limites e coloca em ribalta as tecnocracias construídas e formadas num patamar que se vai moldando e camuflando em democracias conformadas com a vontade dos mercados.
                                              
Bibliografia consultada:
LUBENOW, Jorge Adriano (2012) - A DESPOLITIZAÇÃO DA ESFERA PÚBLICA EM JÜRGEN
HABERMAS SOB A PERSPECTIVA SÓCIOPOLÍTICA. R. Intern. Fil, Vol. 3, N.º 1, p. 54-95.

GASPAR, M. (2013, 28 de Outubro) – “Habermas: partidos europeus optam pelo oportunismo perante um desafio histórico”. Público.

(crónica publicada no "Jornal de Matosinhos").

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