Nesta semana centrar-me-ei numa
análise linear das crises do Estado em relação ao avanço do capitalismo tardio,
seguindo a perspetiva de Jurgen Habermas.
Ora, estes problemas são apelidados de “crises”, dado que estes distúrbios
não permitem que determinado sistema social seja capaz de continuar o modelo
desse sistema.
O
capitalismo tardio marca o fim do capitalismo liberal, na medida em que o
mecanismo de mercado é substituído pela intervenção e a ideologia liberal pela
iniciativa do Estado em corrigir as tendências destrutivas do livre-cambismo
puro. O Estado guarda para si a responsabilidade da segurança social e do
crescimento económico. O que acontece é que, atualmente, assistimos a uma
dessas crises, a crise económica. O descontrolo dos processos acumulativos de
capital dá-se pelas suas contradições e manifesta-se na falência e no
desemprego. Ora, Passos Coelho devia ter mais atenção ao que Habermas diz,
tendo em conta que não segue, somente, a dimensão de crise económica, mas,
também, de crise administrativa, ou melhor, de racionalidade (embora a sua
política esteja muito dependente do FMI, tem responsabilidades e espaço de
manobra para negociações e outras alternativas), pois esta surge quando o
Estado não efetua as políticas técnicas a que se propôs. Por sua vez, este
processo é um bocado como aquelas bonecas russas que sempre que se abre uma aparece
outra no seu interior e (as matrioshkas),
como consequência, a crise da racionalidade dá lugar à crise de legitimação. O
governo de coligação PSD-CDS sofreu e tem sofrido, violentamente, esta crise de
legitimação. No entanto, tire-se o chapéu à política de comunicação desta
governação, na medida em que, a partir dos artigos de opinião, dos vários
textos de blogues e da invisibilidade construída na pessoa do primeiro-ministro,
conseguiu, constantemente, adiar e adiar um debate profundo sobre esta
legitimação.
Por
fim, toda esta correlação de crises leva a uma bloqueio no sistema de valores
culturais e sociais. É feita a crítica à funcionalidade da sobrevivência do
capitalismo. Dá-se a crise de motivação. Surgem os movimentos de resistências
que buscam alternativa, desde anarquistas a outros radicais de extrema-esquerda
ou extrema-direita. Há uma ameaça, assim, à nossa democracia. As democracias
nacionais foram abaladas pela crise e pele fenómeno de globalização que baralha
todos os limites e coloca em ribalta as tecnocracias construídas e formadas num
patamar que se vai moldando e camuflando em democracias conformadas com a
vontade dos mercados.
Bibliografia consultada:
LUBENOW, Jorge Adriano (2012) - A
DESPOLITIZAÇÃO DA ESFERA PÚBLICA EM JÜRGEN
HABERMAS SOB A PERSPECTIVA
SÓCIOPOLÍTICA. R. Intern. Fil, Vol.
3, N.º 1, p. 54-95.
GASPAR, M. (2013, 28 de Outubro) – “Habermas: partidos europeus optam pelo oportunismo perante um desafio
histórico”. Público.
(crónica publicada no "Jornal de Matosinhos").
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